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Clarice Lispector

Clarice Lispector (Chechelnyk, 10 de dezembro de 1920Rio de Janeiro, 9 de dezembro de 1977) foi uma escritora e jornalista nascida na Ucrânia e naturalizada brasileira — e declarava, quanto à sua brasilidade, ser pernambucana —, autora de romances, contos e ensaios e considerada uma das escritoras brasileiras mais importantes do século XX. Sua obra está repleta de cenas cotidianas simples e tramas psicológicas, sendo considerada uma de suas principais características a epifania de personagens comuns em momentos do cotidiano.
Nasceu em uma família judaica da Rússia que perdeu sua renda com a Guerra Civil Russa e se viu obrigada a imigrar do país em decorrência da perseguição a judeus que estava sendo pregada então, resultando em diversos extermínios em massa. Chegou ao Brasil por volta dos dois anos de idade na cidade de Maceió, onde passou um breve período até a família mudar-se para o Recife, cidade onde cresceu e em que perdeu a mãe, e depois para o Rio de Janeiro, onde sua família estabilizou-se e seu pai morreu.
Estudou direito na Universidade Federal do Rio de Janeiro, então conhecida como Universidade do Brasil, apesar de na época ter demonstrado mais interesse ao meio literário, no qual ingressou precocemente como tradutora e logo se consagrou como escritora, jornalista, contista e ensaísta, tornando-se uma das figuras mais influentes da literatura brasileira e do modernismo e sendo considerada uma das principais influências da nova geração de escritores brasileiros. É comparada pela crítica especializada com os principais autores do modernismo do século XX.
Conhecida desde a juventude por escrever e publicar seus textos, suas principais obras marcam cada período de sua carreira: Perto do coração selvagem, seu livro de estreia; Laços de família; A paixão segundo G.H.; A hora da estrela e Um sopro de vida, seus últimos livros publicados. Morreu em 1977 em decorrência de um câncer no ovário, deixando dois filhos e uma vasta obra literária composta de romances, novelas, contos e crônicas.

  • Nascimento

  •  Registrada como Chaya Pinkhasovna Lispector (em russo Хая Пинхасовна Лиспектор), Clarice Lispector nasceu em 10 de dezembro de 1920 na aldeia de Chechelnyk, região da Podólia, então parte da República Popular da Ucrânia e hoje parte da moderna Ucrânia. Filha dos judeus russos Pinkhas Lispector e Mania Lispector (nascida Krimgold), seu parto se deu em meio aos preparativos da família para a fuga do país em decorrência do antissemitismo resultante da Guerra Civil Russa (1918-1920).1 nota 1 Era filha de Pinkhas Lispector, filho do religioso2 e da burguesa Shmuel Lispector e Heived, e de Mania Krimgold, que se casaram no ano-novo de 18893 sob o mando dos pais. Do casamento nasceram três filhas: Elisa, em 1911;4 Tania, em 1915;5 e Clarice, em 1920. A fuga foi cogitada primeiramente por Mania Lispector e sua família, que já havia emigrado em sua maioria à América do Sul para trabalhar em organizações judaicas.6 No entanto, Pinkhas concordou somente com o avanço dos progroms ao fim da década de 1910. Por volta de 1918, a pobreza fez com que a família se mudasse para Haysyn, onde ocorreram alguns progroms, em um dos quais, por volta de 1919, Mania foi estuprada por um grupo de soldados que transmitiram-lhe sífilis.7 nota 2 .
    A proibição de emigração para judeus fez com que os Lispector buscassem meios ilegais em uma primeira tentativa que falhou e que fez co quem eles mudassem-se para uma aldeia mais próxima das fronteiras, Chcechelnyk. No inverno de 1921, conseguiram deixara a Ucrânia após alcançarem o rio Dniestre, através do qual foram levados à cidade de Soroco, então pertencente à Romênia e atualmente à República da Moldávia.8 Lá viveram em um albergue e Mania foi internada em um hospital de caridade e planejaram a fuga da Europa, com o intento de emigrar para o Brasil ou os Estados Unidos, opção esta que acabou por ser inviável devido à aprovação do Emergency Quota Act, que dificultava a emigração do leste europeu.
    Em 27 de janeiro de 1922, o consulado russo de Bucareste concedeu à família passaportes válidos para a emigração ao Brasil,9 que foi feita em uma viagem que passou de Hamburgo através de Budapeste e Praga. Em Praga embarcaram em um navio brasileiro que os levou, em condições precárias,10 a Maceió, onde a irmã de Mania, Zicela, e seu marido, Joseph, ou José, Rabin, os esperava. No Brasil, os nomes russos foram substituídos por nomes da onomástica da língua portuguesa, com exceção de Tania: Pinkhas passou para Pedro; Mania para Marieta; Leah para Elisa; e Chaya para Clarice.11
  • Infância 

    Em Maceió, a família continuou a viver em condições precárias e enfrentou alguns conflitos decorrentes das dificuldades econômicas e culturais. Para sustentar a família, Pedro tornou-se um pequeno mascate, comprando roupas velhas e usadas em áreas carentes para revendê-las aos comerciantes da cidade,12 e também deu algumas aulas particulares de língua hebraica para os filhos de alguns vizinhos e vendia cortes de linho. A situação melhorou somente quando Pedro, ao lado de José, passou a fabricar sabão, como fez na Ucrânia.13
    Em 1924, aos quatro anos de idade, Clarice ingressou no jardim de infância. Em 1925, após três anos morando em Maceió, mudou-se, pouco depois de seu pai, para Recife com sua mãe e irmãs, possivelmente em consequências dos conflitos familiares e do desejo de Pedro de melhorar as condições da família mudando-se para um centro econômico que apresentava também uma população judaica mais coesa. Viveram no bairro Boa Vista.14
    Em 1928, aos sete anos, aprendeu a ler e a escrever. Em 1930, pouco depois, escreveu, inspirada por uma peça que havia visto, sua primeira peça teatral, Pobre menina rica, de três atos e cujas páginas foram perdidas.15 Em 1931, enviou contos para a página infantil do Diário de Pernambuco, mas o jornal não publicou seus textos porque “os outros diziam assim: ‘Era uma vez, e isso e aquilo...’. E os meus eram sensações. ... Eram contos sem fadas, sem piratas. Então ninguém queria publicar”.16 17 . Após completar o jardim de infância, ingressou no ensino primário, na Escola João Barbalho, mostrando bastante interesso por matemática e passando a dar aulas dessa disciplina aos filhos dos vizinhos.
    Por volta dessa época, mudaram-se para a rua Imperatriz Teresa Cristina. Em 1930, na terceira série, Clarice ingressou no Colégio Hebreu-Iídiche-Brasileiro, onde aprendeu hebraico e iídiche. O estado de Mania agravou-se, e Clarice escreveu, para tentar agradá-la, contos e peças,18 mas em 21 de setembro de 1930, aos quarenta e dois anos, Mania Lispector morreu19 e foi sepultada no Cemitério Israelita do Barro. Em homenagem à mãe, Clarice compôs sua primeira peça para piano.20
    Em 15 de dezembro, seu pai deu início ao processo de nacionalização, solicitando um documento inicial. Em 17 de junho de 1931, encaminhou um pedido de naturalização. Em 1932, Clarice, aos doze anos, foi aprovada, ao lado da irmã Tania e da prima Bertha, no Ginásio Pernambucano.21 Em 1933, decidiu tornar-se escritora quando “tomei posse da vontade de escrever ... vi-me de repente num vácuo. E nesse vácuo não havia quem pudesse me ajudar”.22 Na sua última entrevista em vida, ela disse que nessa sua formação literária “misturei tudo. Eu lia romance para mocinhas, livro cor-de-rosa, misturado com Dostoiévski. Eu escolhia os livros pelos títulos e não pelos autores. Misturei tudo. Fui ler, aos treze anos, Hermann Hesse, ‘O Lobo da Estepe’, e foi um choque. Aí comecei a escrever um conto que não acabava nunca mais. Terminei rasgando e jogando fora”.23 15 . A família mudou-se para uma casa própria na avenida Conde da Boa Vista.

    Adolescência

    Em 7 de janeiro de 1935, com catorze anos, mudou-se com a família para o Rio de Janeiro, no navio inglês Highland Monarch,24 onde seu pai esperava dar prosseguimento aos avanços de seu negócio e conseguir bons maridos para suas filhas nos círculos judaicos cariocas. Elisa, entretanto, ficou ainda alguns meses em Recife trabalhando, indo para o Rio de Janeiro pouco mais tarde e prestando concurso para o Ministério do Trabalho. Apesar de ter conquistado as melhores notas, não havia vagas, e ingressou no cargo graças à amizade da família com o político Agamenon Magalhães, então ministro do trabalho e anteriormente professor de geografia25 de Clarice e Tania. Em 1938, Tania também tornou-se funcionária pública.26

    Passam a primeira semana no Rio de Janeiro na residência de um casal judaico no bairro Flamengo e depois moram em uma casa antiga perto do Campo de São Cristóvão. Estabilizam-se na cidade logo em seguida, ocupando parte da casa 341 da rua Mariz e Barros, na Barra da Tijuca. Clarice então estudava o quarto ano do ginásio no colégio Sílvio Leite, na mesma rua de sua casa.
    Em 1936, terminou o ginásio e ingressou, em 2 de março de 1937, em uma escola preparatória, a Faculdade de Direito da Universidade Federal do Rio de Janeiro, então chamada de Universidade do Brasil. A decisão causou estranhamento na época, tanto por Clarice ser mulher quanto por não pertencer à elite carioca, mas era justificada por seus desejos de mudanças sociais, pois “o que eu via [em Recife] me fazia como me prometer que não deixaria aquilo continuar”.
    A influência externa também exerceu influência, pois, de acordo com ela, “isso me ficou na cabeça, e como eu não tinha orientação de nenhuma espécie sobre o que estudar, fui estudar advocacia”. Apesar da relutância do pai, que temia mudanças estressantes na filha, ela seguiu com seus planos e tinha um objetivo: “Minha ideia ... era estudar advocacia para reformar as penitenciárias”.
    Em 1938, mudou de escola preparatória, passando para o colégio Andrews, na praia de Botafogo, onde declarou-se nascida em Pernambuco. Por essa época voltou a dar aulas, desta vez visando ajudar a renda familiar através de aulas particulares de matemática e português, além de aprender datilografia e língua inglesa.
    No Rio de Janeiro, os negócios de Pedro não obtiveram grande avanço, apesar de ele ter conseguido com dificuldade um emprego de representante comercial. Seu desejo de casar as filhas, entretanto, logrou através de Tania, que casou-se no início de 1938 com William Kaufmann, um judeu comerciante de móveis e decorador.
    Por essa época deu-se o Estado Novo, por Getúlio Vargas, bem como o avanço da Segunda Guerra Mundial27 e a intensificação informal das relações do Brasil com a Alemanha nazista e outros regimes ditatoriais, que fizeram com que o antissemitismo penetrasse no Brasil e novamente interferisse na vida da família Lispector, cujo pai, sionista, inclusive arrecadava fundos para os judeus na Palestina, apesar dos riscos.

    Universidade do Brasil

    Em 1939, morando na rua Lúcio de Mendonça, na Barra da Tijuca, ela ingressou no curso superior na Faculdade de Direito da Universidade Federal do Rio de Janeiro ao mesmo tempo em que trabalha como secretária em um escritório de advocacia e em um laboratório, além de já estar fazendo traduções de textos científicos para revistas.

    Em 1940, aos dezenove anos, seu interesse por direito havia diminuído, ao passo que por literatura aumentado, e ela publicou, em 25 de maio, seu primeiro conto conhecido, Triunfo, na revista Pan,28 em que conta-se os pensamentos de uma mulher abandonada por seu companheiro. A posição política da revista de apoio aos regimes ditatoriais, que era semelhante às de outras revistas desse período, todas censuradas, não foi levada em conta por Clarice ao publicar o conto.
    Em agosto, Pedro passou mal e foi levado a um médico, que informou-lhe que sua vesícula biliar precisaria ser retirada através de uma cirurgia considerada simples mesmo para a saúde precária da época, marcada para 23 de agosto. Após voltar da clínica com uma forte dor, Pinkhas Lispector morreu três dias depois, em 26 de agosto de 1940, aos 55 anos.
    Tania, por já estar casada e ter uma residência, foi quem a partir de então tomou conta das duas irmãs, insistindo para que elas fossem morar com ela e seu marido no apartamento nos jardins do Palácio do Catete, onde, devido ao tamanho, Elisa teve que dormir na sala e Clarice no quarto de empregada, no qual passava o tempo estudando e escrevendo.
    Nessa época, insatisfeita com o trabalho de escritório, ela buscou entrar na área do jornalismo, apesar das dificuldades levantadas às mulheres. De acordo com o que diria anos mais tarde em uma entrevista, passou a andar pelas redações de revistas oferecendo seus contos, até que provavelmente um dia chegou à redação da revista Vamos Ler!, direcionada ao público masculino de classe alta.
    A imprensa na época era estritamente censurada pelo governo de Getúlio Vargas e estava sob o jugo do órgão recém-criado do Departamento de Imprensa e Propaganda, que permitia a circulação de determinados periódicos, como a Vamos Ler!, onde Clarice mostrou seus textos ao jornalista Raimundo Magalhães Júnior, secretário do ministro de propaganda, Lourival Fontes.
    Eu sou tímida e ousada ao mesmo tempo. Chegava lá nas revistas e dizia: “Eu tenho um conto, você não quer publicar?”. Aí me lembro que uma vez foi o Raymundo Magalhães Jr. que olhou, leu um pedaço, olhou para mim e disse: “Você copiou isto de quem?”. Eu disse: “De ninguém, é meu”. Ele disse: “Então vou publicar”.       

Caso queira conhecer mais de Clarice Lispector

Acesse: http://pt.wikipedia.org/wiki/Clarice_Lispector

























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