Eu, Jane Arruda de Siqueira, sou uma carioca que veio para São Paulo. Professora de história, sinto a necessidade de introduzir a prosa poética e a arte no meu trabalho. Poetizo o que vivo e registro a minha história, o meu cotidiano, caminhos e descaminhos de uma vida de luta diária que faça sentido.
Através dessa nova experiência com o ato de escrever poeticamente, a professora completa o seu ciclo e recomeça como aprendiz.
Através dessa nova experiência com o ato de escrever poeticamente, a professora completa o seu ciclo e recomeça como aprendiz.
Esta poesia saiu publicada na coletânea " O Melhor de Mim", da Ed. Poesias Escolhidas, BH, MG. Tive o prazer de participar com poetas de todo o Brasil.
Renascimento
Tocou-me como ninguém
Admirou cada detalhe
Das minhas pernas marcadas
Dos meus pés cansados
Dos meus seios reinventados
Do meu ventre ressuscitado
Dos meus cabelos recuperados
De minhas mãos amaciadas
Depois de seus toques
Sou aqui.
Renasci
Dia de visita
A sala de visitas
Uma vitrine
Quando passamos por ela
Paramos.
Admiramos...
Quando o som acompanha
Talvez haja discrepância
Presta atenção no barulho e na vitrine... enquanto espera.
Um Canto
Aos meus pensamentos deixo a liberdade
As minhas palavras deixo o meu canto
E no meu canto encontro um jeito
De te contar.
Bora Daqui
Era feriado e ela estava lá.
Cheguei na porta do quarto
Avistei-a ... Cabeça caída
Parei ... Meu Deus, o que fizeram com ela?
Cadê a minha mãe?
Peguei a sua mão ... mamãe?
Me tira daqui, su, suplicou com o olhar..
E sorriu pra mim.
Juntei suas coisas e pus na bolsa o que restou e levei-a dali.
Sequestro relâmpago?
Resgate?
Papéis?
Bora daqui.
Histerectomia
Ela abortou o útero
Muitos anos depois
Na sala de aula
Era noite
E o sangue
Escorria-lhe pelas pernas
Paralisou.
Saiu correndo A-PA-VO-RA-DA
Estava morrendo
Estava parindo
Sendo devorada pelo inevitável
Evitou tanto
Agora estava ali
Na sala de espera.
Ela abortou o útero
Muitos anos depois
Na sala de aula
Era noite
E o sangue
Escorria-lhe pelas pernas
Paralisou.
Saiu correndo A-PA-VO-RA-DA
Estava morrendo
Estava parindo
Sendo devorada pelo inevitável
Evitou tanto
Agora estava ali
Na sala de espera.
Distração
Dis - trai?
Dis - traia?
Dis - traiu?
Dis - traíra?
Des - trói.
Velhice
Observo a velhice na minha cadela.
Tem quinze anos.
E quando jovem comia de tudo.
Era uma draga.
Hoje não.
Hoje ela escolhe e come na medida
Ração, nem pensar!
Quer comida de verdade.
Se der mais que o necessário
Deixa no prato
Não come
E vai descansar.
Sabedoria canina...
Tecitura
Há um desafio a enfrentar
Ou ela para de sonhar
Ou ela continua a andar
A andança é de lascar
Não dá mole
E pra pensar
E de escolha
E de escola
E depressa
E devagar
Há um desafio a enfrentar
Ou ela para de sonhar
Ou ela continua a andar
A andança é de lascar
Não dá mole
E pra pensar
E de escolha
E de escola
E depressa
E devagar
Enlouquece
Finge que esquece
Depois lembra
Pra voltar a cantar
Canta, conta, escreve
Leve, pesado, breve, ferve
Como numa roda
Vai e volta
E os dias se vão
As noites também.
O caos entristece
A paz entretece
Ligados a nós
Atados em nós
Ficamos só nos
Ligadas nos sois que brilham por vezes
Como caracóis vem e vão
Cá entre nós.
Vigília
Naquela casa os fantasmas se misturam aos viventes
As luzes não apagam e explodem naqueles horários inusitados
A meia noite, por exemplo.
Recado dado.
Hora de dormir.
Hora de descansar, entendeu!
Mas que nada!
Tem gente que não entende
Tem gente que não dorme
Só eu que teimosamente tento ser fiel
Com muito custo
Em fechar a porta
Apagar a luz
E descer o véu.
Elas são as Abayomis!!!
Uma bolsada
Cheguei em casa exausta. Tarde ideal para deitar no sofá e ligar a tv em qualquer trivialidade. Descansar do jeito mais torto. Foi aí que ouvi: bolsas. Um desfile de bolsas e a entrevista com a diva.
"O que você costuma levar na bolsa que seja indispensável?"
" O celular e as chaves."
" E em quem você daria uma bolsada?"
Ela se saiu bem na saia justa, e eu ali deitada, pensei com meus botões: nunca dei uma bolsada em ninguém. E não foi por falta de carteirada.
Minha bolsa nada dispersa
Concentra tudo o que necessito
Leva meus pertences, minha alma, meus vinténs, o livro que saboreio
Com o lanche que veio
Pão e poesia
O batom que me caiba
É um tanto de porcarias
Que esqueço no dia-a-dia
E que sem ela
Eu não resistiria.
2 comentários:
Senti nos seus escritos as letras soltas das amarras do pensamuito,eles ficaram graciosamente leves e encantadores.
Jane querida, estou aqui encantada como seu blog!
Quanta coisa linda para se ver, ler e sentir!
Parabéns minha amiga poeta!
Beijos com carinho
Sandra
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